A derrota de Anhangá

         Não
foram só os deuses olímpicos que se misturavam a raça dos homens; em Pindorama,
Anhangá, o filho tranqueira de Tupã, também se enamorava das belas cunhãs.
Contam as lendas urbanas que o pajé Kaiobá teve duas filhas com a morena
Itatins; as cunhatãs Juréia e Maratayama, mas algo que o feiticeiro não sabia; Maratayama
era filha de Anhangá com Itatins.
         Quando
os europeus chegaram, Kaiobá trocou a bela Maratayama por um lindo espelho, e
ela foi morar com o branquelo Damião de Alentejo. O piaga passava horas e horas
se observando na superfície de cristal, até o momento em que Anhangá se mostrou
através do objeto, e falou; – “Cretino! Velho caduco! Como teve a petulância de
trocar Maratayama por um espelho? Meus descendentes vão destruir tudo por aqui,
e eu vou ajuda-los”  
         Damião
de Alentejo montou casa para os lados de Icapara, local abençoado por Tupã; sem
cobras, sem mosquito pólvora, um paraíso. Vieram os muitos filhos; um deles,
incentivado por Anhangá, ergueu um farol, e acabou o sossego, os piratas descobriram
a vila. Resultado? Mudaram a vila para outro local.
         A
briga entre Tupã e Anhangá vem do começo do mundo, desavença de pai e filho,
coisas de família. Tupã sempre dava um jeito de arrumar os estragos de Anhangá;
chegou ao extremo de mandar uma imagem santa para proteger a vila. Anhangá
sorriu; – “Com as mãos amarradas? Pouca coisa irá fazer.”, disse o tinhoso.
         Anhangá
estava enganado; chegou o progresso, o ouro, as novidades. O sacana pôs na
cabeça de um de seus tataranetos que o melhor para a vila era escavar um
valinho para melhorar o transporte entre o rio e o lagamar. Deu no que deu;
tudo surucou! Adeus progresso, adeus vida de rico; tudo como dantes.
         O
tempo passou, a vila virou cidade; Anhangá através de seus descendentes cuidava
para que nada desse certo. Na atualidade, alguém do seu sangue, conquistou o
poder, e junto & misturado aos herdeiros de Anhangá, finalmente a promessa
foi cumprida; ruas esburacadas, mendicância, dengue, zica, povo vivendo às
minguas, salários em atraso, gente desesperada, e sem dinheiro para pagar as
contas do mês, água e luz cortadas, cidade parada, e sem perspectivas de
melhoras. Fim da picada!
         Uma
antiga lenda conta que nas terras da Jureia vive um tucano de ouro; o pássaro é
mágico, raramente foi avistado. Ele é um dos mensageiros de Tupã, traz fartura
e progresso por onde voa; dizem que no início deste mês ele sobrevoou a cidade,
fez um ninho nas montanhas. Anhangá perdeu; tudo indica que algo de muito bom
está para acontecer… Vamos aguardar.
Gastão Ferreira/2016
           

Deixe um comentario

Livro em Destaque

Categorias de Livros

Newsletter

Certifique-se de não perder nada!