A história de Amália…

O NOIVO INVISÍVEL………….

Na noite que antecipou o nascimento de Amália, um meteorito caiu próximo à vila, as corujas piaram toda a noite e pela manhã alem de um Bem-te-vi, um Tucano sobrevoou o casebre. Ao findar o trabalho de parto, quando dona Bitoca anunciou; – “É uma menina!”, um papagaio desconhecido pousou na janela e corrupacou; – “Será Feliz! Será Feliz” e desapareceu na mata… Dona Madí desmaiou!
Nunca existiu uma criança tão formosa quanto Amália, seu único problema era que não falava com estranhos. Todos a julgavam uma mudinha. Não era esta a verdade, pois até os doze anos de idade fora muito comunicativa. Dona Madí lembra com disfarçada emoção um fato bizarro.
Estavam mãe e filha naquela tardinha as margens do rio, Amália prestava atenção na história que mãe Madí lhe contava; – “Tá vendo aquele buraco? Foi ali que caiu uma pedra do céu, na noite antes de você nascer. Dizem que uma luz azul saiu do meio do fumacê e entrou na mata e desapareceu… Depois ninguém sabe de onde veio o papagaio que afirmou que você seria muito feliz!”
Continuavam entretidas com a conversa quando um forte vento vindo da mata as assustou. Uma luz de um intenso azul saiu do matagal em direção as duas e nessa hora dona Madí perdeu os sentidos. Quando voltou a si notou que Amália estava sentada próxima à entrada da mata com um vistoso papagaio assentado em seu ombro. Correu em direção à filha perguntando; – “Que aconteceu Mália? Fala filha! O que aconteceu?”, Amália respondeu e foram às penúltimas palavras que alguém ouviu dos seus lábios; – “Meu noivo veio me ver!”
Amália continuou a crescer normalmente, transformou-se em linda moça. É verdade que não falava, mas seu papagaio se comunicava muito bem, numa linguagem clara e precisa. Com o tempo, Ramires, esse era o nome do louro, começou a encantar a vizinhança… Nem bem alguém se aproximava da dupla Amália e Ramires e o papagaio já anunciava; – “Tá com problemas nos rins! Vai pra casa e toma chá de quebra-pedra.”, “Seu estômago está reclamando! Losna é um bom remédio.”, “ Tem um encosto do seu lado! Procure um pai de santo.”
Foi assim que a fama de curandeiro de Ramires se espalhou. Também dava conselhos sobre direito penal, educação, cultura, agronomia e pecuária… Um gênio de asas!… Com Amália era diferenciado, a conversa girava sobre robótica, espaço-tempo, extraterrestres, naves espaciais, física quântica e teoria gravitacional.
Os rapazes das cercanias estavam todos alvoroçados. Quem conquistaria Amália? Nas horas em que Ramires dava consulta, costumavam estarem presentes para uma paquera e aparentemente a bela Mália nem se tocava das caras e bocas, das piadinhas tolas, dos olhares, das caretas e das mil artimanhas das quais os adolescentes se utilizam para se fazerem notados.
Maéco era o líder da garotada e o mais apaixonado por Amália, quando ouviu a história de dona Madí sobre a luz na mata e o aparecimento de Ramires, teve certeza de que o papagaio era um feiticeiro, um bruxo que precisava exterminar para libertar sua amada e começou a fazer planos.
No pequeno Bairro Rural, anualmente ocorria o “Festival da Primavera”. A vila se enchia de desconhecidos, violeiros, tocadores de sanfonas, dançarinos, pescadores, agricultores, meeiros e sitiantes. Maéco achou que o ajuntamento era propício ao assassinato de Ramires… Preparou um pequeno dardo envenenado e escondido entre a multidão disparou contra o louro.
Quando Ramires foi alcançado pela seta mortal, soltou um brado alucinante; – “Fui atingido! Vou partir.”, formou-se uma clareira em volta de Amália e Ramires… O papagaio pendeu a cabeça, olhou para Amália e murmurou; – “ Serás feliz… Serás feliz.”
O povo estava estupefato! Amália chorava, o louro agonizava… Uma luz azul, surgida ninguém sabe de onde, envolveu a dupla… Amália gritou; – “Meu noivo!”… Foram suas últimas palavras… Uma tênue claridade anilada a encobriu e foi desaparecendo lentamente e transportando consigo quem estava dentro do globo luminoso. Era o noivo que ao saber que o guardião deixado para proteger sua amada fora assassinado, veio buscá-la.

Gastão Ferreira/2013

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