Dentro da noite…

O ALBERGUE DO BAGRE SOLITÁRIO

Em nossa região temos várias pousadas, hotéis, pensões, flats, estalagens, hospedarias, mas nenhuma delas se equivale ao Albergue do Bagre Solitário, um simpático mocó que acolhe de portas abertas as meninas boas e os meninos maus ou vice versa, situado em uma das muitas vilas da cidade.

Para quem procura fortes emoções, a baiuca está localizada logo após o famoso ponto turístico conhecido como Atalaia Esfarelada ou Torre da Farinha no linguajar popular, quase ao lado do domicilio do senhor Google e dona Net e de seus amáveis pimpolhos Not e Book. Uma rua tranquila visitada de meia em meia hora pelo policiamento ostensivo. Uma rua em que o turista desavisado participa do jeitinho nóia de viver, onde pode observar os namoricos, desavenças e paqueras que acontecem no escurinho das esquinas.

Neste aprazível sitio, Black-cat, Munrhá, Bad-boy e muitos outros super-heróis saem dos gibis e cartuns para exercitarem seus super-poderes em pleno logradouro público ao vivo e a cores. O atento visitante de um momento para outro compartilha de estranhos eventos, Black-cat espancando os meninos do mal, Munrhá chamando as forças da escuridão, Hebe Camargo da Silva entrevistando os passantes, Pomba-gira dando consulta em porta de bares e fazendo amarrações grátis. Vizinhos saindo na porrada sem explicação prévia. Garotos de programa sem programa filando cigarro dos transeuntes, velhos e decadentes michês e muitas Madalenas Arrependidas apontando e comentando a nova geração purpurina e afins. É nessa paragem que notamos como a vida é rica de nuances, como o bem e o mal convivem lado a lado sem preconceito, como todos os matizes fazem parte de uma cor básica chamada Evolução. É aqui nas proximidades do Albergue do Bagre Solitário onde as máscaras sociais perdem o seu valor e cada pessoa vale pelo que é. Onde todos cuidam de todos e ninguém aparentemente cuida de ninguém. Onde a dor bate na porta do rico e do pobre com a mesma constância, seja através das drogas, da fome, do desafeto, da solidão… Onde a maldade tem endereço fixo, onde a bondade se insinua ao compartilhar o pouco que se tem com quem nada possui. Onde todos os demônios dos vícios saciam a fome da luxuria na carne jovem, onde os vencidos se creem heróis, onde todos os pecados se confundem e o atento olhar de Deus conhece o coração de cada filho e sabe que estas ovelhas, bodes, cabras, cabritos e serpentes são a parte mais bela da sua criação… Crianças brincando de viver!

No Albergue do Bagre Solitário, onde todos os amores se confundem. Onde a dor mais profunda se esconde, onde a solidão grita seus palavrões e a tristeza teima em se passar por alegria é onde a menina abandonada acha acolhida, onde a pouca comida mata a fome dos que se deserdaram da vida, aonde os que chegaram ao fundo do poço se recolhem e dormem sonhando que são os donos do mundo. O Albergue do Bagre Solitário é um farol de luz negra, chamando… Chamando dentro da noite!

Gastão Ferreira/2012

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