MONÓLOGO DE UM CÃO
– Olá pessoal! Sou um cão, meu nome é Hidy e sou o melhor amigo do Senhor Otha. Estamos visitando Iguape, enquanto meu dono desfruta das compras nos modernos supermercados, eu vejo as novidades. Que maravilha os novos ônibus! Todos do século passado e condizentes com uma cidade histórica de patrimônio tombado, no futuro eu ainda vou correr atrás de charretes, nada como o progresso para incentivar os cidadãos a melhorarem de vida.
– Na orla do lagamar, muita gente exercitando-se no calçamento. Algumas pessoas estão deitadas na grama, acho que são turistas todos alcoolizados e fazendo gracinhas para as senhoras que praticam a caminhada matinal. Gostei de ver! Nada como uma paquera para levantar o astral dos humanos. Só não entendo porque as mulheres ficam tão apavoradas com criaturas tão gentis e bem educadas.
– A cidade está uma belezoca. Estão cobrando pedágio dos ônibus de turismo. Também com tantos visitantes é bom que paguem para usufruir o privilegio de conhecer as belezas naturais que possuímos. Dizem que em algumas cidades mais pobres os excursionistas são incentivados com descontos em hotéis e restaurantes, mas por aqui, quem precisa de turistas?
– Tenho muito orgulho de morar num município tão bem administrado, segurança plena, ruas limpas, calçadas sem buracos, gente feliz e sorridente. Algo que chama a minha atenção é a quantidade de pedintes pela cidade. Antes era só no centro antigo, mas agora as vilas contam com essa modalidade de cobrança de pedágio pelo direito de ir e vir. Até os pequenos curumins de uma aldeia indígena aderiram à moda, enquanto seus pais vendem o palmito retirado das matas, as crianças fazem a festa e pedem dinheiro a todos que encontram… Uma gracinha!
– É verdade que sou um cão e posso não entender o comportamento dos humanos. Acho uma boa idéia essa de por os Urubus para trabalhar de graça na limpeza pública, parece que eles também gostam, pois são centenas a furarem os sacos de lixo, a catarem restos de alimentos do chão… Uma comilança bonita de ver!
– Moro num sitio e raramente venho à cidade. Acompanho meu dono em suas visitas a amigos e familiares. Todos me conhecem e sabem o meu nome completo Hidy Otha. Estranhei a quantidade de pessoas motorizadas que se perdem na cidade cheia de placas. É um tal de perguntarem como se faz para sair na BR… Humanos burros! É só seguirem as placas indicativas, até um Hidy Otha sabe!
– Quando venho na cidade presto atenção em tudo, menos na conversa dos humanos. Eles são muito confusos, falam de alguém chamada Politicagem e culpam-na por todos os males que afligem os moradores do município… Só por Deus!
– Futuramente vamos bater um novo papo e desvendar juntos os mistérios que rondam pelas encruzilhadas da vida, eu adoro novidades, gosto de ver as pessoas felizes. Com licença! Meu dono, o senhor Otha está me chamando:- “Hidy Otha! Vamos embora.”
Gastão Ferreira
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.