CRÔNICA AO AMANHECER


CRÔNICA AO AMANHECER

Muitos iguapense têm por hábito ou esporte predileto falar mal de nossa cidade. É um direito só deles esse comportamento. Quando um estranho ou turista ousa fazer um simples comentário desairoso viram uma fera e defendem a Princesa do Litoral com unhas e dentes. Encontram defeitos em tudo e em todos. Um forasteiro fica abismado com essa estranha maneira de amar a cidade.

Numa comunidade fechada onde todos se conhecem, onde todos os pecados são filmados e nenhum segredo fica impune, tudo gira em torno da política, do efêmero poder que muda de mão a cada quatro anos e que de uma hora para outra puxa o tapete de quem pensa ser a última Manjuba do Ribeira. O humilde de hoje será o arrogante de amanhã, aquele que exigirá um beija mão ultrajante do necessitado, seja na demora injustificada para uma audiência ou no descaso com o semelhante. Ao findar o período de Tainhas gordas, a poderosa personagem se transformará na própria humildade esquecendo-se do que aprontou. Filme já assistido inúmeras vezes por muitos de nós.

Assim é o reino dos homens! Esses mortais que nunca aprendem a grande lição; – Nascemos de mãos vazias e partimos de mãos vazias. Tudo o que é do mundo permanece no mundo, só levamos conosco para a eternidade o efeito de nossas ações boas ou más, elas serão nossas companheiras no pós morte, constituirão nosso inferno, nosso purgatório, nosso paraíso. A vida ensina a vida cobra, a vida julga. Esse ciclo chama-se aprendizado.

Podemos encontrar distorções em tudo e em todos, pois nossos defeitos reconhecem no outro o que mora dentro de nós. Numa ocorrência em que jamais encontro falha é no amanhecer em nossa cidade, nas inúmeras vezes em que madrugo para assistir ao nascer do sol fico extasiado perante tanta beleza. São nesses momentos que sinto a grandeza que nos cerca.

Um pouco antes do alvorecer, quando o espaço se tinge de leve dourado, começa a migração diária das aves que pernoitam nos mangues, nos confins da Ilha, nos baixios do lagamar. Primeiro são os Urubus aparecendo por trás das montanhas, se dividem em grupos e cada um tem seu percurso pré-estabelecido, Icapára, Ilha Comprida, Mathias, Rocio, Iguape. São centenas e aparentemente surgem do mesmo local por trás do Morro do Espia. Em segundo lugar são os Biguás que em pequenos bandos de oito a doze aves enfeitam o céu, são dezenas e dezenas de pássaros que saem dos manguezais e voam para alem da cidade em direção ao Rio Ribeira. As pequenas Garças brancas seguem na rota enquanto bandos de Pombas, Andorinhas e Bem-te-vis saúdam o novo dia.

Quem observa o amanhecer em Iguape fica abismado com a quantidade de aves que cruzam o céu em busca de alimento em lagos, rios e canais da região. Fica encantado com as diferentes espécies que adejam sobre a cidade, desde o pequeno Beija-flor ao nobre Gavião, passando pelas Saíras, Sanhaços, Cambacicas, Rolinhas, João de Barros, Lavadeiras, Sabiás, Tico-ticos e muitas e muitas outras das quais me foge o nome. É nesse momento que agradeço a Deus morar em Iguape, compartilhar desse pedacinho do paraíso onde se pode sentir a grandeza da criação. Quem assiste ao alvorecer em Iguape jamais deixará de acreditar num futuro melhor para nossa cidade.

Gastão Ferreira/2011

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