Na garagem

Coisas estranhas eram normais de acontecer em minha família; tio Horácio estava montando uma mesa na garagem de casa, e simplesmente sumiu… Ninguém jamais descobriu para onde ele foi.

Vovó Esmeralda também desapareceu, ela foi buscar uma panela guardada na garagem, e nunca mais foi vista… A única certeza foi de que ela realmente entrou na garagem e não saiu…

Perdemos a conta de quantos gatos e cachorros nos abandonaram e jamais foram encontrados… Alguma coisa bizarra, algo além de nossa compreensão acontecia dentro daquela garagem…

Nossa casa é uma construção antiga, nossa família é uma das fundadoras da cidade; a habitação foi erguida ao lado de um conjunto de rochas que formam uma pequena caverna, a nossa garagem…

No verão a garagem permanecia numa temperatura agradável e no inverno era quentinha; ela também servia como depósito de velharias do casarão, ela estava atulhada de móveis e objetos antigos…

Um dia, eu e meu amigo Fernando resolvemos pesquisar os desaparecimentos misteriosos, e o que descobrimos foi assustador… Os estranhos sumiços ocorriam há séculos, um antigo livro de história contou que a caverna era considerada um portal pelos índios Pitoxós…

Os Pitoxós habitaram a região em tempos passados, e eles também sumiram sem deixar registro da nova moradia, algo difícil de esconder e ainda mais difícil de acreditar… Sem contar à ninguém começamos a estudar a caverna…

Um dos meus antepassados ergueu uma parede de tábuas no final da caverna, e havia uma porta escondida por detrás de um guarda-roupa muito antigo… Descobrimos a pequena entrada porque a madeira do guarda-roupa estava podre e cedeu quando abrimos a sua porta…

Fernando munido de uma lanterna queria espiar o que havia além da porta, eu mais precavido resolvi enrolar uma corda no corpo e deixa a outra ponta amarrada firme num gancho preso a parede…

No final da área da garagem as pedras da rocha formavam um estreito corredor, podíamos respirar o silêncio, um cheiro fétido de morte no ar, e de repente um som de água caindo de muito alto… Fim do corredor!

Fernando encostou-se à parede e a rocha cedeu, uma suave claridade nos envolveu, havia uma neblina e muitas vozes… Homens com aparência de lobos nos convidando à avançar… Eu gritei; – Volta Fernando, são todos lobisomens!

Fernando foi em direção à neblina e eu ouvi seus gritos de pavor, a muito custo, agarrado e puxando pela corda em que eu me prendera consegui voltar… O que Fernando não tinha notado, mas que eu percebi era a grande quantidade de esqueletos espalhados pelo chão após a caverna…

Um terror antigo morava por ali, ossos de animais há tempos extintos, esqueletos de adultos e crianças, de bichos que desapareceram, de meus antepassados que foram atraídos para o fundo da caverna, de todos os índios Pitoxós que a história esqueceu…

Nunca contei sobre o desaparecimento de Fernando, ele não tinha familiares na cidade… Hoje sou o único herdeiro do casarão e posso afirmar que até a pouco dormia em paz; construí uma moderna garagem ao lado de casa, implodi com dinamite a caverna, selando para sempre a sua entrada…

Minha neta Heloisa de cinco anos está desesperada, sua gatinha Nina cavou um buraco em meio às rochas que vedam a entrada da caverna, e desapareceu… Heloisa diz que viu uma neblina saindo do buraco, e que ela tinha a forma de um grande e peludo lobo…

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