O pote

Contam as lendas urbanas da cidade de Iguape, litoral sul do Estado de São Paulo que no Ano da Graça de 1750, na freguesia de Icapára, Dona Leontina Amália de Amarante Prado desapareceu misteriosamente.

Dona Amália estava chegando aos cem anos, filha mais velha do famoso pirata Dito Bucaneiro, apelido de Charles William Wolfman, o flibusteiro que roubou um tesouro de um galeão espanhol que navegava para a Europa, e acoçado pelos soldados de El Rey o pirata escondeu-se na vila de Icapára onde conheceu Edyleusa de Amarante Prado e se perdeu de amores.

Dito Bucaneiro presenteou a filha mais velha com um pote cheio de moedas de ouro e gemas preciosas, o tal famoso dote que toda a donzela rica tinha direito… Leontina não casou, e o dote permaneceu intacto na família.

Leontina Amália quando jovem se apaixonou por Diogo de Alvarenga Machado, o rapaz que ficou conhecido como Guinho Lobisomem… Diogo foi morto por uma bala de prata ao pular do telhado da casa dos Amarante Prado; coitado do moço! Ele nunca foi um lobisomem, mas para não macular a honra da donzela Tina Amália ele foi apontado e enterrado longe da vila com a fama de besta fera; este foi o motivo de Leontina Amália jamais ter se casado.

Ao envelhecer Dona Leontina pegou a mania de achar que todos queriam roubar o seu precioso ouro; numa tarde de verão, quase ao anoitecer, naquela hora em que as mutucas param de perseguir os viventes e dão lugar aos pernilongos, Dona Tina pegou o seu pote e entrou na mata que margeia o manguezal… Ela simplesmente desapareceu.

O sonho de todo o icaparano era encontrar o pote de ouro de Leontina Amália do Amarante Prado, e foi essa a causa do desmatamento da orla do mangue de Icapára; essa insana procura só terminou na noite em que Fábio Luis Silva Romeiro deu de cara com Amália do Amarante Prado, isso vinte anos após o desaparecimento de Leontina…

O mancebo Fabinho estava voltando da pesca da tainha quando notou aquela anciã encurvada andando no meio da mata, reparou na figura desconhecida, e se aproximou; segundo o rapaz, a mulher era muito estranha, ele ficou totalmente arrepiado com a aproximação; – “Você não vai roubar o meu ouro, seu salafrário! Chispa daqui antes que eu chame Guinho para acabar com a tua raça.”

Fabinho foi o primeiro icaparano a se defrontar com a visagem de Leontina, mas seu fantasma até a atualidade ainda aparece nos arredores do bairro do Icapára, sinal de que o pote com as pedras preciosas não foi encontrado… Dizem que no dia em que alguém descobrir onde o pote está escondido, Tina Amália do Amarante Prado finalmente descansará em paz.

 

Gastão Ferreira/2021

Deixe um comentario

Livro em Destaque

Categorias de Livros

Newsletter

Certifique-se de não perder nada!